Friday, June 16, 2017

Física - Parte III



Nada acontecia, Augusto atravessava a rua. Não sentia nada, nada. Mas sentia saudades, no plural, de ti. Ocorre que a falta que tu fazias não era afetiva, passional ou amorosa, senão de ordem espacial. Augusto se dava conta de que o coração se embrulhava no lugar vazio do teu corpo ausente. Desapareceram os grandes continentes da vida a dois: a sala de jantar, por exemplo. Enganam-se, pensava ele, os que creem ser o espaço o infinito abstrato dos físicos modernos. Vinha à sua mente, talvez enviada por um anjo, a expressão decifrada "aquilo n'aonde que".  Isso era o espaço. Tua barriga, digamos, fora o lugar de Marília, nome lindo. Marília nasceu morta. Estranho como as palavras, pouco a pouco, nos trouxeram de volta a essa tristeza. Augusto atravessou a rua para que o mundo não se desfizesse.       



2 comments:

Douglas said...

ESTOU CHOCADO. ISSO É MUITO MARAVILHOSO

Gabriel Rezende said...

Obrigado, Douglas!

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