Monday, May 01, 2023

A porta






Abre e fecha a porta;

Tranca.

Sai pelo elevador a tempo de lembrar que é preciso voltar.

Volta.

A porta

Ainda fechada. E a tranca?

A tranca trancada, mas é bom abrir. E conferir.

Abre e fecha a porta;

Tranca.

Desce pelo elevador. 

Pisa na rua. E quem estava lá

Trançando?

A porta,

Que diz: volta!

Mas por quê?

Porque sim, oras. Não te lembras?

Lembrar de fechar a porta.

Sobe.

A tranca trancada, mas é bom conferir.

Abre e fecha a porta;

Tranca.

Que zorra, que merda, que bosta.

Tudo fechado.

Chama o elevador e vai embora.

No ponto de ônibus, dá sinal...

Com a mão direita?

Aponta assim o erro

Fatal. 

Trancou com a mão esquerda. Eu acho. Sei lá. Volta.

Elevador. 11. 

A porra da porta. 






Friday, December 31, 2021

Almofariz e Pilão

 Quando Juvenal saía da botica



Morto do sono da

arte,

andando entre sonhos

pestilentos.

Levanta.

 

Saturday, July 24, 2021

 





Todo santo dia

O que acorda nele

Não é a estrofe

Mas o período

Noturno

Oratio soluta

Se ensilabando 

em Basalto

Lembrança do magma

Resfriado

Do mal nosso

Que ele guarda

Sem saber

Como seu




Thursday, July 22, 2021

 






Se é longe

 é porque 

se é perto

é porque se 

é longe

Friday, June 18, 2021

Sion




Prato de faiança pregado na sala

Sobre um balcão de jacarandá.

As paredes no amarelecer 

De nicotina e de fumaça

Da avenida, do ponto de ônibus.

A cortina ruiu, ali, ao lado,

E deixou entrar, branco menos verde,

Um rubro outono cheio de magentas.

E foi dia, e foi noite aberta

Em sésamo derramado, jorrado,

Jogo americano ensopado de leite.

O piso é taco, é farpa-com-ferpa no pé

Do menino que anda de meia.

Porque a meia ele não lava.

A meia ele suja da escureza chã,

Correndo à flor que dá, enfim,

Na maçaneta da porta da avó.

Ele roda a rosa azul,

Mas nada pode o puxador de porcelana

Contra o ferrolho. O quarto segue,

Por ora, inconcesso. 


 






Thursday, January 03, 2019

Alto



eis-me aqui diante da página branca,
elemento mágico capaz de transportar-me,
mau poeta, ao horror abismal do poema. 
por um instante, eu sou mallarmé, eu sou valéry.
mas se no início fora o caos, logo era terra também.
e sendo terra, haveria de ser poeta, mau poeta.








Tuesday, December 04, 2018

A Górgona de Brumadinho

Paralelismos santos, formas
geométricas que deixaram de
ter força para encontrar a força
do teu desejo. Impossível, enfim,
desejar-te um desejar. Para sempre
serás o suco celeste de teu peito, mais
de mil veias a complementar os ausentes
vazios do nosso leito. Por onde andarias tu
se soubesses o que sei? Por onde andarias tu
se soubesses que eu não sei? Vai, vamos embora
agora porque eu não quero parte nas quedas sem brio
que endereças aos teus. Ó vastas cabeleiras em serpenteio
prontas a mastigar os futuros petridestinatários de teus olhares.
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