Saturday, July 29, 2006

Poemar


Hoje o céu está escuro e cinza, resolvi poemar.
Se só vejo montanhas, paredes e árvores tortas,
Corro a pena no papel escrevendo sobre o mar.

Salto para o lado e canto o axé de Coisa-mais-linda.
Andorinhas viram anjos
E as ruas alumiam.

Param céu e terra frente à água modelo.
Justa perdição,
Justo desterro.

O que pode querer mais o poemeiro?
São todas as mágoas desfeitas no sopro,
Nos olhos, e no cheiro (de ensismeiro).


Obs: poema é coisa mais triste que se tem notícia. Lava a alma, mas lava sozinha; lava sem duas vozes, lava.

Sunday, June 25, 2006

Compra e Venda (nova)

Olá.
Como vai?
Eu vou indo, e quero pão. Quanto me custa?

(Quem não há de se lembrar da bela canção?).

O pão é 5. Cinco centavos.
Ótimo. Veja-me seis. 6 pães.
Aqui está, muito obrigado. É só passar no caixa.

Olá, bom dia senhor.
Bom dia.
São 30 centavos. 0,05 X 6 = 0,30.
É verdade. Adeus.
Senhor! Não vais pagar? São 30 centavos.
Não, não vou pagar.
Como não vais pagar? Custam 30 centavos, ora, pois.

Não vou pagar. Fiquei louco. Fiquei louco, não vou pagar. Eu fiquei louco, por isso não pago.
É possível parar de rir agora.
obs: texto inspirado numa aula do prof. Márcio Túlio. Ele sim é louco.

Monday, May 01, 2006

O padre

Era uma vez um padre ... que enxergava o mundo
Que falou ... e foi reconhecido
E então ... virou bispo.

Mas recusou essa oferta
Por temer se afastar do caminho:
Encargos burocráticos são estrada sem fim;
Afastam-se de seu propósito e desvirtuam sua base.

A base que, para ele, é Pai, Filho e Espírito Santo
Que, para outro, é Alá
Que, para mim, é uma idéia.
Mas que, para todos, é o mesmo.

Era uma vez um padre ...que me mostrou uma riqueza esquecida
Um padre que admite os erros e busca superá-los
Que é sábio e tem o dom da palavra
Que transmite a paz em uma oração.

Esse padre é budista,
E faz vudus com um pai-de-santo.
Ou melhor, esse padre foi quem vi em sonho
Celebrando a união eterna de João palestino e Maria judia.


Texto cedido pelo amigo Eduardo.

Saturday, February 18, 2006

Enquanto isso...

Enquanto isso, o amor espera lá fora
impaciente na sala de espera.
E o salão principal ainda guarda,
em meio à penumbra que o domina,
um restinho de luz do antigo amor.

Esse amor na reserva teima em despertar a poesia moribunda
que ronca no peito do poeta inexistente.
E o antigo amor cutuca o amor sem face, zomba dele, insulta-o
mas pede sua presença...

Enquanto isso, convém uma distração...
Bem que eu lutei,
joguei o jogo dos ratos,
pus o coração de lado,
por instantes, senti o gosto ilusório do triunfo...
mas esse é um jogo de cartas marcadas,
de antemão, já se sabe o perdedor,
o que tem um coração pra dar, nada além de um coração...

Não se engane não, a prata em seu dedo ainda reluz dolorosamente nesse palpitar caduco.

Até quando vai durar?

Escrito por Lauret Casturro
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