Nada
acontecia, Augusto atravessava a rua. Não sentia nada, nada. Mas sentia
saudades, no plural, de ti. Ocorre que a falta que tu fazias não era afetiva, passional ou amorosa, senão de ordem espacial. Augusto se dava
conta de que o coração se embrulhava no lugar vazio do teu corpo ausente. Desapareceram os grandes continentes da vida a
dois: a sala de jantar, por exemplo.
Enganam-se, pensava ele, os que creem ser o espaço o infinito abstrato dos
físicos modernos. Vinha à sua mente, talvez enviada por um anjo, a expressão
decifrada "aquilo n'aonde que". Isso era o espaço. Tua barriga, digamos, fora o lugar de Marília, nome lindo. Marília nasceu morta. Estranho como as
palavras, pouco a pouco, nos trouxeram de volta a essa tristeza. Augusto atravessou a rua para que o mundo não se desfizesse.
2 comments:
ESTOU CHOCADO. ISSO É MUITO MARAVILHOSO
Obrigado, Douglas!
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