Wednesday, January 24, 2007

A catarse no brejo ou Sapo e tristeza na Beira do Rio

Olha lá o sapo brejeiro!
Corre sapo tunante, corre e entra no rio.
Tua necedade se abre enquanto diabo-sorrio.

Olha lá que sapo matreiro!
Umas mil tunas de sapos com frio.
Mexe e te escondes: vai sapo vadio!

Olha lá que sapo dengueiro...
Em vão dissimulas teu vistoso brio.
Sapo brejeiro, sapo em vadio compadrio.


A Floresta pega fogo e o sapo, aquele mesmo sapo estulto e vadio, lança-se em louca perdição. A margem do rio não esconde o afã das chamas. A casa do sapo, a beira do rio, agora é um triste lamento. O sapo que passava frio agora queima na fúria do homem e na fúria do fogo. Triste destino.

Ó desditoso companheiro, compadeço-me em teu penar. O fogo que te queima expurga as paixões que me assolam.

Eu te reconheço.

Sunday, January 14, 2007

Inflexão morosófica.

Em meio à cordialidade que me é inerente, gostaria de fazer mais alguns apontamentos sobre tudo o que remete à loucura e ao pensamento morosófico saturnino. Cordialidade e loucura, talvez, devessem ser interpretadas e interpeladas de uma mesma maneira: na minha opinião cordialidade pode ser explicada como o aspecto mais sublime daquilo que se entende por loucura. A cordialidade é a loucura em estado bruto, é aquilo que nos impede de ser racional na vida em sociedade, é aquilo que nos impede uma construção mais sólida de uma democracia, é aquilo que nos impede a fixação de um liame moderno. Só mesmo um louco pode não saber exatamente a diferença entre o que é público e o que é privado, você há de concordar.

Certo, não restam mais dúvidas. Mas o que pode fazer, então, uma nação de loucos? Uma nação formada por seres humanos que amam demais, por seres humanos muitas vezes mais interessados na beleza dos sentimentos do que na leveza do capital ou na dureza de uma república sólida e rígida, cheia de modernices, cheia de certezas. Aquela xícara de açucar você não deve ter recusado, certo?

Ultimamente eu tenho tido medo destas certezas todas, destas todas certezas. Tolices criadas por alguns franceses, uns ingleses e uns alemães (quiçá uns norte-americanos) e incorporadas por nós em solos férteis regados ao melhor sal europeu. (E aqueles que nutrem certeza na ciência? Estes chegam a me divertir muito, mais talvez do que aqueles racionalistas divertiam Erasmo. Os mais certos na ciência geralmente são aqueles que menos a conhecem, tamanha a ironia e a lógica desta relação). A loucura cordial é uma das formas de libertação destas lógicas certas, destas lógicas, da lógica.Ultimamente eu tenho tido medo destas certezas todas.

Afinal de contas, como já diria o nosso querido Érico Veríssimo, na voz de Francisco Vacariano: "eu ainda duvido que ela (Antares) seja maior que o sol". Viva a cordialidade! Viva a loucura, pelo amor de Deus.

Sunday, January 07, 2007

Reflexão morosófica n. 1

Aí está tudo o que queria dizer.
Relações de causa e efeito vão se propagando e
sem mais nem menos surge a síntese de tudo o que
gostarias de dizer. Dizer-me.

É a morosofia que comanda nossas almas
a partir do presente momento. Nada de poesia.
Muito menos filosofia. Poiesis, ou seja lá como se escreva isso,
é só um sonho distante pensado por um velho barbudo.

Estamos todos de volta. Agora é a deusa que vem nos guiar.
Ela está ali na sala a me olhar...
Racional uma ova! Aqui não se verá nada de novo, nem nada de diferente:
há somente aquela velha constatação.

êita loucura. êita insensatez. Que bom que voltastes!
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