Augusto pensava em nós naquele dia em que atravessou
a rua sem que nada acontecesse. Um passo, outro passo. Das mil e uma noites que
passara ao teu lado - ou os 32 meses, a depender do seu estado de espírito -,
ele agora se lembrava muito pouco. Sobraram algumas imagens vagas, disformes,
multicoloridas; alguns instantâneos. É verdade que ele se perguntou se tudo
aquilo não havia sido um sonho. Não pelo caráter onírico ou fantástico de vossa relação, é claro, mas sim por aquela compressão total do tempo que se experimenta
entre a vigília e o despertar. Uma sesta que talvez tenha durado muito ou muito
pouco. Augusto te amou de verdade, não resta nenhuma dúvida. Amou, aliás,
sabendo que era amado. Gostava de transar contigo às sextas-feiras, quando vós
vos encontráveis. Aos domingos, menos: sentia-se tímido diante dos olhos
terríveis das segundas-feiras. Quando tu disseste que ia embora porque tinha me
encontrado, Augusto pensou que eu deveria gostar de transar aos domingos. Ou
outro dia da semana. Essa reflexão algo machista o ocupara durante meses; e o
ocupava, certamente, também nos instantes em que atravessou a rua sem que nada
acontecesse.
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