Em meio à cordialidade que me é inerente, gostaria de fazer mais alguns apontamentos sobre tudo o que remete à loucura e ao pensamento morosófico saturnino. Cordialidade e loucura, talvez, devessem ser interpretadas e interpeladas de uma mesma maneira: na minha opinião cordialidade pode ser explicada como o aspecto mais sublime daquilo que se entende por loucura. A cordialidade é a loucura em estado bruto, é aquilo que nos impede de ser racional na vida em sociedade, é aquilo que nos impede uma construção mais sólida de uma democracia, é aquilo que nos impede a fixação de um liame moderno. Só mesmo um louco pode não saber exatamente a diferença entre o que é público e o que é privado, você há de concordar.
Certo, não restam mais dúvidas. Mas o que pode fazer, então, uma nação de loucos? Uma nação formada por seres humanos que amam demais, por seres humanos muitas vezes mais interessados na beleza dos sentimentos do que na leveza do capital ou na dureza de uma república sólida e rígida, cheia de modernices, cheia de certezas. Aquela xícara de açucar você não deve ter recusado, certo?
Ultimamente eu tenho tido medo destas certezas todas, destas todas certezas. Tolices criadas por alguns franceses, uns ingleses e uns alemães (quiçá uns norte-americanos) e incorporadas por nós em solos férteis regados ao melhor sal europeu. (E aqueles que nutrem certeza na ciência? Estes chegam a me divertir muito, mais talvez do que aqueles racionalistas divertiam Erasmo. Os mais certos na ciência geralmente são aqueles que menos a conhecem, tamanha a ironia e a lógica desta relação). A loucura cordial é uma das formas de libertação destas lógicas certas, destas lógicas, da lógica.Ultimamente eu tenho tido medo destas certezas todas.
Afinal de contas, como já diria o nosso querido Érico Veríssimo, na voz de Francisco Vacariano: "eu ainda duvido que ela (Antares) seja maior que o sol". Viva a cordialidade! Viva a loucura, pelo amor de Deus.